quarta-feira, 3 de junho de 2015

Quando o voto secreto vira arma contra si mesmo

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Não é de hoje que muitos leitores se arrependem de terem votado em seus pretendidos candidatos, meses ou anos após ocorridas as eleições. 

Especulações eleitoreiras, infindáveis promessas de campanha, uso de imagens salvífica e redentorista são algumas das armadilhas utilizadas por agências de publicidade - quando não pelos próprios candidatos, na esperança de alcançar o maior posto do poder executivo, sejam eles nas esferas municipal, estadual ou federal.

As consequências de uma péssima escolha nas urnas podem ser desastrosas. A insatisfação gerada por condutas má direcionadas na hora em apertar a tecla verde nos remetem as incertezas do futuro e são irreversíveis. 

O período que estamos vivendo apontam para esse cenário. Pesquisas recentes do Instituto Data Folha mostram que a insatisfação com o atual governo de Dilma Rousseff chegaram a 3/4 dos seus eleitores; ou seja, de cada quatro pessoas que a elegeram três estão frustados com o desempenho da chefe do Palácio do Planalto.

Mas então, quem são esses eleitores? Segundo a mesma publicação grande parte dos eleitores de Dilma são pessoas com baixa escolaridade e com pouca renda familiar, com predominância da região centro-norte. Ainda que tenha surpreendido as pesquisas de boca-de-urnas que apontaram com certeza uma vitória na região sudeste.

Mas a escolha que a elegeu teve peso maior em dar continuidade ao processo de crescimento econômico do país. A geração de empregos, o desenvolvimento sócio-econômico e o maior poder de compra animou as urnas.

Ocorre que em um curto espaço de tempo a história vem em contra-mão, mostrando que os escândalos de corrupção desde os tempos do Mensalão até os mais recentes como Petrolão e Operação Lava-Jato vem maculando, arranhando a imagem do governo e frustando até aqueles que eram filiados partidários.

Após a cada eleição estamos assistindo nos plenários dos poderes executivo e legislativo a posse de pessoas despreparadas para serem revestidas ao conquistado cargo eletivo, personagens às vezes caricatos ou de apelidos chulos, que conotam bem o propósito em representar a população.

É triste essa realidade, mas são frutos da democracia. Basta sabermos eleger melhor os nossos representantes, mesmo com a difícil tarefa de saber o que eles querem e quais são suas reais intenções.








quinta-feira, 23 de abril de 2015

A doce transformação em nossa literatura



Uma breve reflexão sobre a música “Amor I love you”, de Marisa Monte


Deixa eu dizer que te amo
Deixa eu pensar em você
Isso me acalma
me acolhe a alma
Isso me ajuda a viver

Hoje contei pra as paredes
Coisas do meu coração
Passei no tempo
Caminhei nas horas
Mais do que passo a paixão
É um espelho sem razão
Quer amor fique aqui

Deixa eu dizer que te amo
Deixa eu gostar de você
Isso me acalma
me acolhe a alma
Isso me ajuda a viver

Hoje contei pra as paredes
Coisas do meu coração
Passei no tempo
Caminhei nas horas
Mais do que passo a paixão
É um espelho sem razão
Quer amor fique aqui

Meu peito agora dispara
Vivo em constante alegria
É o amor que está aqui

Amor I love you
Amor I love you
Amor I love you
Amor I love you

" - Tinha suspirado
Tinha beijado o papel indevotamente
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades
E o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas
Como um corpo ressequido que se estira num banho tépido
Sentia um acréscimo do estímulo por si mesma
E parecia-lhe que entrava enfim uma existência superiormente interessante
Onde cada hora tinha o seu intuito diferente
Cada passo conduzia um êxtase
E a alma se cobria de um luxo radioso de sensações."

Amor I love you
Amor I love you
Amor I love you
Amor I love you

  
                       A letra de música aqui apresentada para análise foi escrita por Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes – que na época formaram o grupo intitulado de “Tribalistas”, teve grande aceitação pelos ouvintes por seu tom melódico e romântico.

            A letra é declaratória com características moderno/romântica e narrada em primeira pessoa. O eu - lírico proposto, embora seja cantado pela voz de Marisa Monte, não tem característica feminina, única, o que não impediria de um homem expressar tal sentimento declaratório.

            A construção e estruturas da primeira e terceira estrofes são idênticas; a segunda e quarta estrofes também se assemelham. Nelas constatei erros de uniformidade de tratamento: você / tu.

            Analisemos a letra morfossintaticamente:

            “Deixa eu dizer que te amo”: no primeiro verso da primeira estrofe, o verbo “deixar” é transitivo direto, o que significa não possuir predicação completa, necessitando assim de um objeto direto para completá-lo na predicação. Ocorre que a palavra “eu” ora sublinhada, desempenha o papel de objeto direto do verbo “deixa” na oração, contudo a palavra “eu” é um pronome do caso reto e não pode desempenhar outro papel a não ser o de sua função específica, que é representar os nomes dos seres ou indicá-las na pessoa do discurso.

            Esta oração então ficaria correta se deslocarmos o pronome átono “me” depois do verbo, já que não se abre frases com pronomes oblíquos; assim teríamos como resultado: “Deixa-me dizer que te amo” que é uma ênclise, assim denominada quando se anexa pronomes a verbos.

            Terminando a análise da oração, está correto na oração o verbo “dizer” no infinitivo (2ª conjugação), mesmo que a palavra anterior esteja mal posicionada. O curioso é que a oração inicia com um erro sintático e termina de forma correta (“... que te amo” e não “amo você”).

            Igualmente persiste o erro no início do segundo verso da estrofe, exceto ao final da oração quando o verbo “pensar”, que é intransitivo – que é aquele que não necessita de complementação por ter sentido completo. Mesmo sendo aceitável a presença de um predicativo (... em você).
  
            No quarto verso não se deve iniciar frases ou orações com pronomes oblíquos, já mencionados anteriormente.

            Na segunda estrofe, a palavra “pra” é a forma sincopada da preposição “para” que muitos escritores clássicos preferem não usá-la. Toda essa estrofe foi escrita usando figuras de linguagem, sobretudo metáforas.

            Depois da quinta estrofe, há uma narração em terceira pessoa em que o narrador de presença onisciente, descreve uma ação da personagem Luíza, da obra realista de Eça de Queiroz “O Primo Basílio”.

            Quanto à forma literária ora proposta, analisei e conclui de que os autores e escritores utilizam de um recurso que é conhecido como “LICENÇA POÉTICA”, que significa não haver uma regra única e determinante para rimas e afins, prevalecendo as ordens de caráter pessoal, de acordo com a escrita e harmonia. Até os erros são aceitos.

            Nessa música, por exemplo, os erros foram escritos de forma proposital para uma melhor aceitação na letra da música. É a presença da licença poética. O excerto de Eça de Queiroz recitado por Arnaldo Antunes, dá autonomia aos autores e completa o pensamento ora apresentado de que esse grupo conscientemente sabe o que escreveu.